27/04/2014

Sorri

Enquanto lê, escute:

Compro um só pão de sal pela manhã, às 6:15. Gosto de esperar que ele esfrie. Pão quente me dá enjoo. E eu me sento na mesa (na mesa mesmo). É ruim sentar numa cadeira quando não se tem alguém para assentar-se noutra. Ali tomo meu café doce e meio morno, mais pra quente que pra frio. Duas colheres de açúcar e uma pitada de sal dissolvido em água.
O short é sempre o mesmo, aquele que vem cá em cima e tem panos faltando embaixo, o moletom mais quente e sem calor tenta cobrir os membros, que não os inferiores, mas acho que ele perdeu algodão de tanto ter sido colocado na máquina de lavar. Pantufas. Assim mesmo que fui à padaria. E em casa assim fiquei. Em cima da mesa. Tomando café com pão. 
A manhã costumava melhor, mas amanhã não pode voltar a ser. Cada canto era preenchido por sentido. Até aquela cadeira vazia na sumária ausência. Até as palavras mais curtas às 6. Até o excesso de monossílabos em uma frase só.
Ausência. Silêncio. Paz inútil para quem quer barulho, turbulências ou sussurros para abafar o que vem de dentro. E agora tudo que me resta é comprar um pão. Um só pão ao som de mim mesma.