09/08/2016

Teorias

Enquanto lê, escute:


Talvez eu precise ter um pouco mais de noção de mundo para entender o que se passa entre a gente. E não falo de uma noção que se acaba onde termina minha capacidade de entender. Talvez eu precise penetrar o invisível e me acostumar com a ideia de tentar ver, não no escuro, mas naquilo que paira acima de mim. Talvez não tenhamos sido criados para entender isso. Mas é o que eu quero. Quero uma teoria de tudo que me percorre quando você caminha em minha direção. E quero entender os efeitos que isso gera na minha construção da sua imagem (e o porquê de isso fazer com que você baste a mim, com que eu não queira mais ninguém). Talvez eu precise ficar na ponta dos pés e ampliar o lugar que a vista vê. Não é nenhum trabalho inédito: você sabe que eu gosto de ficar da sua altura quando te abraço. E, assim, talvez enxergue um universo que não vejo quando te vejo, apesar de ter a sensação de que você é constelação. Trataria-se, então, de um lugar paralelo em que só existiríamos nós dois; lugar metafísico: onde haveria um milhão de terminações nervosas no céu, onde o chão seria seus pés. E eu seria para você o que sempre quero poder ser: o horizonte, o ilimitável, o "sem fim".  

Talvez eu precise ter um pouco mais de noção de mundo para entender o que se passa entre a gente. E aprender que um mais um são dois. Mas que essa dualidade, quando compartilhada pela gente, dividida igualmente, gera um só sentimento. Talvez eu precise aprender um pouco mais sobre quão recíproco o amor pode ser antes de nos entender. Você, tudo que sempre quis versão três dimensões; tudo de que sempre precisei, com bônus do sorriso mais gostoso do mundo. E eu quero entender por quê. Por que você faz de mim partícula em suspensão ainda que esteja com os pés no chão. Por que você constrói ao meu lado um mundo de felicidade ainda que não use tijolos. Por que você me derrete mesmo com as propriedades dos materiais indicando ser impossível fundir o corpo humano a 37 graus Celsius. E por que é com você, e tem que ser você e, se não for, nada mais basta.

Talvez eu precise ter um pouco mais de noção de mundo para entender o que se passa entre a gente, para talvez entender que nem toda noção do mundo me faria compreender a vontade que tenho de dançar no seu passo quando toca notas no violão ou no meu corpo. E nunca entenderei a sensação de que eu já te conhecia antes daquele dia, antes de estarmos a sós durante dois andares, antes de saber seu nome. Talvez seja porque de fato não seja inteligível, talvez porque inteligibilidade e nós dois não combinem. Talvez eu não entenda nossa lógica porque é menos matemática do que parece ser. Talvez não seja para entender.

Por ora, quero entender não existir modelo teórico que nos concretize. Quero pairar também naquilo que paira acima de mim e lá permanecer, para lá te levar. E não ter que voltar com respostas para mim, para o universo que não é esse que te preenche. Quero nosso mundo, e quero ter noção dele. E só. Por ora, quero dizer que te amo sem análises de quão alto pode ser o abismo: porque eu sei que, se estivermos juntos, inclusive a queda será apaixonante. Não existirão teorias. Nunca haverá gravidade.