12/06/2016

Paladar azul

Enquanto lê, escute:



Meu sossego em outro corpo foi encontrado. Assim, em voz passiva, em voz calada, em perda de som. Silenciou-me. Quente, calmo, encaixe. Sem pressa, um a um, paz em par. Seus olhos refletindo minha boca te pedindo. Meu corpo se aproximando, te pressionando, te extorquindo devagar. E forte e sempre. A mim? Ameaças de queda de pressão. A você, de elevação súbita, apesar do suplício inevitável: sem movimentos bruscos. Eu, unhas. Você, dentes. Artifícios para aliviar a vontade e a dor. 

Bom em números, me calculava, arquitetava, testava, comprovava, continuava. Um pouco mais para a esquerda e... aí. Estacionava. Você com toques leves, eu querendo mais. Faz-me piano, violão. Traz-me melodia, faça de mim uma. Pedia. Me manobrava docemente. Me arrepiava. Sabia ser eu acelerador: me domava a ser freio. Me ensinava a sensação.

Eu entregue, corpo inteiro, querendo sua alma. Você disposto, corpo inteiro, pela primeira vez pairou sobre os meus olhos. Troca. Sintonia. Sinestesia. Paladar azul, vontade roxa. Pés, panturrilhas, joelhos e coxas. Quadris, quadris, quadris. Boca a boca. Um girassol te acompanhando, aceitando seu convite: quer dançar mais eu? E um carrossel ao fechar os olhos, um cheiro de aconchego, de paz, de pertencimento. Um gosto de desejo, de mais, mais rápido, mais forte, mais fundo, mais você. Todo meu. Consumação, consecução, confirmação: nós em nós. Indeterminadamente. 


Ps.: Quando é que começaremos a usar uma palavra para resumir os últimos quarenta períodos?