09/02/2016

Que sorria com os olhos

 Enquanto lê, escute:



Não sei se você se lembra, mas ainda te acho aquele cara metade realidade, metade utopia, e não foi dessa vez e não foi com você que aprendi o que é ter raiva de alguém. Você ainda é feito de amarelo vibrante para mim. Você ainda é luz, porque tudo aquilo que um dia te ofuscou na minha memória, de hoje em diante não terá motivo de existir: embate. Sabe qual a melhor coisa que ficou? Aquele pedaço de pizza na cama e o ketchup na sua blusa laranja. E sua paciência, ao entender meu jeito estabanado, exemplificando o tanto que você procurou insistentemente melhorar nesses últimos meses, o tanto que você aprendeu a respirar fundo. Sua blusa encharcada por aquele "eu te amo" que você sussurrou no meu ouvido, me fazendo acordar de um sonho do jeito mais doce, grudou em meu corpo inteiro, e, de alguma forma, aquele tecido sempre tocará a minha pele. O laranja dos momentos de amizade, em que a gente não se envergonhou um do outro simplesmente porque, além de tudo, éramos parceiros. Eu cantando no controle da televisão enquanto você gravava, o formato de coração que só seu corpo tem, o seu olhar para mim enquanto eu me maquiava. Bom, a pizza... ta aí para lembrar todas as comidas que dividimos, que partilhamos, que esperamos chegar com muita fome. Bom, e todas as ocasiões também. O primeiro dia no japonês. O primeiro dia no Tizé. O último dia na Circus. De tudo, ficou meu coração dolorido, mas ficou também minha memória cheia, que insiste em apagar tudo aquilo que nos distanciou. Memória cheia de vida, porque é isso o que você representa. Memória que está tentando se lembrar do seu mantra para superar as coisas: eu não vou sofrer mais do que cinco minutos, vou engolir o choro e ir. Cinco minutos demoram muito nessas ocasiões. De tudo, ficou a dor causada pelo "não é justo". De fato, não é justo que seja assim, mas a gente sabe que precisa ser. De tudo, ficou aquele casal que se apaixonou perdidamente: e tudo começou literalmente de um sonho. E se algum dia meus filhos me perguntarem como eu te conheci, "dormindo" será a resposta.
Não sei se você se lembra, mas eu te fiz uma promessa. Aliás, fiz muitas. E prometo cumpri-las. Mas a mais importante delas era a de que eu cuidaria de você, mesmo que para o mundo parecesse mais sensato que fosse o contrário. De março até aqui, eu incessantemente fiz isso; e eu não vou parar. A começar, ainda vou pedir aos anjos que te mantenham com o sorriso no rosto, porque você merece. E, até alguém aparecer e te fazer se apaixonar perdidamente de novo, prometo estar com você para o que der e vier. Você esteve comigo nos piores dias da minha vida. Eu quero retribuir, mesmo não estando mais presente da mesma forma na sua vida. Eu também te prometi ser forte, mas parece que o meu máximo desconhecia o seu. Você é uma armadura com coração de passarinho: imbatível, inatingível, mas com vários batimentos por minuto, alegados pelo som forte na sua caixa toráxica. Você é a armadura mais sensivelmente forte que já vi: fico feliz em ter chegado tão longe e ter conseguido, tão rapidamente, ouvir de pertinho essa trilha sonora interna. E, das promessas, as responsabilidades: o pequeno príncipe aprendeu que a gente se torna eternamente responsável por aquilo que cativa. Eu também aprendi e foi ao seu lado. Vou tomar conta do seu coração enquanto ele, de algum jeito, me pertencer.
Espero que a vida sorria para você com os dentes, mas, mais importante, que ela sorria com os olhos. Que nenhuma preocupação ou dor te atinja suficientemente para bloquear sua criatividade. Que você permaneça calmo nas piores horas e que tenha sempre em mente que os piores momentos sempre serão recompensados por minutos inesquecíveis (da mesma forma que aconteceu com a gente). Espero que ame alguém, que ela seja a mãe dos seus filhos, que ela te escute e te ame. E se te amar pelo menos um terço do que eu sinto, eu já saberei que está em boas mãos. Que você não tenha três filhos, um só já é o suficiente. Que você encontre o mesmo colchão versão 2016 e uma casa linda para chamar de lar. Que se lembre de tirar os enfeites de natal da casa. Que se lembre de como é simples me fazer sorrir, porque enquanto eu tiver que te ver com frequência, eu quero que você faça isso sempre. Que você seja feliz, muito feliz, por mais difícil, por mais que tenha que lutar pela felicidade, por mais problemas que te inundarem. Que se lembre de mim como a pessoa que se encantou pela sua voz e que mergulhou fundo com você, por maior que parecesse a loucura. E foi loucura. E foram os 11 meses mais intensos dos meus poucos e talvez dos seus alguns mais anos de vida.
E espero que saiba que isso não é o fim. Não se você quiser. Não se eu quiser. Existe um recomeço no final de um começo. Existe futuro. Existe maturidade e aprendizado. E o que existe agora é apenas um espaço para respirar. Para rever. Para entender de fora. Para resolver alguma chaga. E, se for para ser, espero que volte para a minha vida, algum dia, com suas penas encantadas. Você sempre será meu pássaro. Eu sempre serei sua menina.

Você? Meu monólogo.