12/03/2015

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Enquanto lê, escute:





Desaceleramos depois de inúmeros 140 batimentos por segundo. Onde nós estamos? Pela primeira vez em meses, eu quero me encontrar nesse lugar onde o pé no acelerador nos trouxe, por mais sinuosa que seja essa parte da estrada, por mais alto que estejamos, mesmo com todas esses buracos no asfalto e com todos os vazios que te ocupam no momento. A gente pode parar aqui. Ficar aqui, dentro um do outro, guardados em lugares inacessíveis. E nos camuflarmos no pôr do sol usando suas cores laranja e amarelo para ninguém que passe por aqui possa nos ver. Deixe-me tocar a sua mão que repousa sobre a alavanca de marchas, olhar os seus olhos de interrogação e reduzir o giro do motor. A gente fica por aqui um tempo. Eu respiro mais do ar que sai dos seus pulmões, nós sentamos para conversar e, enquanto estiver falando, sentirei com a lateral dos meus dedos os seus cabelos. Ficarei perto o suficiente para ouvir seus pensamentos fluindo na sua cabeça, tentando adivinhar suas feições.


Quando anoitecer, você pode me fazer de cobertor. Faço da minha pele lã. Dos meus membros seus fios. E te aconchego, te envolvo, te abraço e te digo que vai ficar tudo bem. Que nunca vou me arrepender de ter chegado até aqui em cima com você. Que voltar todo essa distância que percorremos, não devido ao tempo, mas à velocidade, será um desdar de mãos semelhante ao abandono de um sonho, que tem sido lindo, por sinal.

Eu posso sorrir para você. Quantas vezes você quiser. Nesse escuro só existirá branco de dentes e brilhos nos olhos. Eu posso te convencer, se você deixar. Mudar meu nome, cortar o cabelo, falar que tenho 30 e que estive nos últimos quatro anos em qualquer lugar, menos aqui. Eu fujo. Enfrento meio mundo. E nós seguimos esse caminho. Eu posso te convencer, se você deixar. Aprendo a jogar tudo para o alto e manter os pés no chão, a fazer de 15 anos, 15 semanas, invento a máquina do tempo. Ou eu posso te convencer, se você deixar. E permanecer aqui, ao seu lado, e entender o seu momento. Eu posso não mudar, escolher enfrentar, tudo por um beijo como o de ontem. E te ajudar, mesmo que em silêncio. Dizer que tudo vai ficar bem, mesmo que tenhamos que nadar contra a maré. Eu subo nas suas costas, você faz flexão, fica mais forte e me protege de todas essas ondas. Você já fez isso antes e já lutou muito pelo que realmente queria. Isso é tudo o que você realmente quer?

Agora, só com a lua por cima das nossas almas, só com a esperança de o sol surgir amanhã por mais segundos lado a lado, encoste seu corpo no meu. E deixe que eu sinta com o meu coração o seu. Disparado ou não, angustiado ou não, todo meu ou não. Quando a gente acordar, ou descemos rumo ao mar confuso que nos espera ou você me traz em casa. A história só pode ser gravada de duas formas daqui para frente: ou como uma quarta-feira à noite ou como um Março inesquecível.

Eu vou esperar.