19/02/2015

Seu monólogo

Enquanto lê, escute:


Desde a hora em que acordei, andei pensando em te procurar e falar o tanto que queria reviver aquela uma hora de nossas vidas. E poder reparar na roupa que você usava no dia para que a eu de hoje lembrasse você com mais detalhes. Eu queria escutar mais uma vez cada palavra que você me disse, prestar atenção nos detalhes de como você conduziu uma das explicações sobre o ser humano mais lindas que já ouvi. Você falou quase sozinho no diálogo. Falou muito (você sempre fala), mas disse bastante também (como sempre diz). Poucas pessoas no mundo são como você. E eu, bem... Eu demorei um poema para notar isso... Você já vai entender.

Existem muitas pessoas vazias por aí que falam demais, mas têm teorias montadas em cima de um castelo de cartas. O oposto são as pessoas completamente cheias que falam pouco, suas teorias são verdadeiras teses, e pequenas frases que são pronunciadas fazem com que aprendamos lições de vida. E há aquelas pessoas que se assemelham a você, aquele tipo de gente que eu escutaria falar por horas seguidas sem me cansar, que precisa falar por muito tempo para concluir o pensamento, mas que faz de cada frase, não uma lição de vida, mas uma estrofe de um poema que, quando finalizado, é a teoria mais romântica e contraditoriamente mais real possível.

Eu acordei querendo me lembrar de cada palavra. E do jeito que você as articulou, mantendo-me apaixonada por cada coesão. Eu queria relembrar o movimento dos seus lábios, o timbre do seu olhar e o brilho da sua voz, que parecia estar, como eu, fascinada por tudo o que ela própria dizia. E ouvir de novo você falar o único trecho do seu monólogo do qual realmente me lembro com todos os detalhes, pausas para respiração e feições: "Todo mundo precisa ser um pouco romântico para ser feliz". Desde então você virou a prosopopeia de toda a utopia que ocupou minha cabeça nos últimos dias. Ou, dizendo em termos menos complicados, eu só consigo pensar em você desde aquela uma hora próxima às suas não intencionais formas de fazer com que eu me apaixonasse por você.

E hoje, especialmente hoje, eu ligaria se tivesse o seu número só para ouvir sua voz imperceptivelmente contando alguma crônica do dia. E contaria para você que eu sonhei o sonho mais doce da minha vida em uma dessas raras noites, como a de ontem, em que eu não acordo na madrugada. Eu sonhei a noite toda com abraços que me fizeram sentir-me confortável da mesma forma que me sinto enrolada no cobertor no outono, eu sonhei com um beijo bom. E no sonho, toda a ternura do mundo se concentrava na expressão que seu par de sobrancelhas e suas bochechas contraídas, num riso bobo, davam ao seu olhar.

Desde a hora em que acordei, andei pensando em te procurar e falar o tanto que queria reviver aquela uma hora de nossas vidas. Com certeza eu repararia na roupa que você usava, sentiria melhor o seu perfume, gravaria cada palavra e, ao final, diria muito mais que um obrigada. Eu ainda não tinha percebido, semana passada, mas o que eu escutei de você não foi, na verdade, uma das explicações sobre o ser humano mais lindas que já ouvi. Foi a melhor delas. E se você for bom em seguir suas próprias teorias, coloque metade de mim na realidade sem tirar minha outra metade das suas utopias. Eu adoraria ser parte dos próximos seus monólogos e habitar algumas de suas palavras. E habitar boa parte da sua vida.