26/04/2015

Linhas e pontos

Enquanto lê, escute:



A gente sabe quantos pontos teve que dar
para fechar cada corte
e quantas linhas usamos 
para costurar nossos pedaços. 

Só a gente sabe o gosto da própria lágrima 
o vazio de cada soluço
a força feita para abrir um sorriso 
e a dor que dói o cansaço que cansa. 

Só a gente sabe o invisível, o indizível 
e o gosto ruim na boca
as olheiras, as horas em claro 
os espaços e os esparsos.

Só a gente vê a radiografia que não mostra os ossos 
o espelho que não mostra os contornos, 
o escuro 
mesmo quando os olhos estão abertos.
E a gente vê cinza, e a gente vê cinzas, 
e a gente vê nada. 

Só a gente sabe como é dormir no barulho 
conviver com o chão frio 
respirar memórias curtas
indagar se foi pesadelo
e querer que tenha sido. 

Só a gente descansa acordado, 
sente frio no verão, 
se aquece com livros 
e neles se esvai.

Porque só a gente sabe
e só a gente sente 
que precisa sentir menos. 
Que precisa sangrar menos.
Que precisa viver menos.
Porque nossos segundos equivalem a horas
Porque cada dia daria um romance.