Enquanto lê, escute:
A gente sabe quantos pontos teve que dar
para fechar cada corte
e quantas linhas usamos
para costurar nossos pedaços.
Só a gente sabe o gosto da própria lágrima
o vazio de cada soluço
a força feita para abrir um sorriso
e a dor que dói o cansaço que cansa.
Só a gente sabe o invisível, o indizível
e o gosto ruim na boca
as olheiras, as horas em claro
os espaços e os esparsos.
Só a gente vê a radiografia que não mostra os ossos
o espelho que não mostra os contornos,
o escuro
mesmo quando os olhos estão abertos.
E a gente vê cinza, e a gente vê cinzas,
e a gente vê nada.
Só a gente sabe como é dormir no barulho
conviver com o chão frio
respirar memórias curtas
indagar se foi pesadelo
e querer que tenha sido.
Só a gente descansa acordado,
sente frio no verão,
se aquece com livros
e neles se esvai.
Porque só a gente sabe
e só a gente sente
que precisa sentir menos.
Que precisa sangrar menos.
Que precisa viver menos.
Porque nossos segundos equivalem a horas
Porque cada dia daria um romance.