10/12/2013

De novo a dois

Enquanto lê, escute:

Essa mesa de jantar não lhe parece grande, meu amor?
E esses pratos? Um pouco velhos.
Nós precisamos nos mudar. Mudar de casa, que tal?
Aliás, não precisa ser de casa.
A gente pode mudar de cômodo.
É sempre aqui, sempre assim nossas noites de domingo.
Você se assenta lá e eu cá e entre nós há um pedaço desnecessário de madeira.
Não acha?
Desculpe-me. Os pratos não estão velhos, sei que você os ama.
É que eu ando tão cansada desse fundo branco e desse contorno bege.
E cansada desse mesmo vinho que a gente bebe.
Cansada dos domingos.
Parece que passei a os odiar novamente,
mesmo depois de você ter feito com que eu os amasse.
Sabe? Eu sorria. E ria. E depois de tudo eu só ria.
Lavando as louças com você eu ria.
E ria do modo com o qual você as lavava com calma.
Eu ria e ria, rios e rios de risadas.
Mas agora tudo é assim, um silêncio.
Suas gargalhadas são forçadas só para quebrá-lo.
Você não tem mais aquele canto de boca curvado.
As rugas lhe apareceram e eu nem percebi.
Assim como não percebi a lua cheia no céu hoje.
Você gosta quando eu percebo.
Seu olhar anda quieto demais, você olhava para tudo ao mesmo tempo.
Lembra?

Eu olhava para o chão, pensando tudo isso em silêncio.
E do seu silêncio, pude ouvir:

O que aconteceu se o racional ainda me diz que você é você
e eu ainda sou eu?
O que aconteceu se eu continuei sendo o mesmo com você,
você sempre esteve lá por mim,
se a gente se amou por tantas noites do mesmo jeito,
se a gente ainda se ama o mesmo tanto?
Se a gente ainda se ama aquele amor que você nunca acreditou ter intensificadores suficientes para ser descrito?
Por que tudo é tão diferente se o jantar é o mesmo?
Se a mesa é a mesma?
Se até os talheres são iguais, porém um pouco mais novos?
E nossos pés ainda estão juntos por debaixo da mesa?
Somos os mesmos, amor.

Pensei alto demais:

Mas de tanto sermos os mesmos, meu bem, já não somos mais.


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