03/12/2013

Dança comigo?

Enquanto lê, escute:



Vem cá. Sente-se. Mas antes, coloque para tocar aquela música que me dá vontade de dançar, sabe qual? Vamos dialogar. Só nós dois sabemos falar essa língua nossa, feita das nossas línguas que se enrolam, desenrolam, atritam-se, perdem o atrito e depois descansam. Pode começar com aqueles seus beijos só de boca. Você sabe que só dos nossos lábios se tocarem todo o meu corpo já quer envolvê-lo, não é? Eu sei que sim, você faz de propósito isso de ficar encostando e desencostando constantemente sua boca na minha. Bom, o segundo passo pode ser se levantar e me puxar junto para dançar com você. Dance comigo devagarzinho enquanto tenta me convencer que eu não nasci para dançar músicas calmas demais. 

Você sabe como meus quadris são. O ritmo preferido deles é mais rápido um pouco do que o que está tocando. Volte ao som, coloque uma algo que me permita rebolar de um jeito suave. Sorria para mim. Não sou boa nisso, mas você saberá que só estarei tentando seduzi-lo de algum jeito. Sorria de novo e, nessa peça de dois, encene uma mordida no seu lábio inferior como se estivesse me pedindo menos uma peça de roupa. Continuarei dançando. Você se juntará a mim.

A sombras que nossos corpos criam na parede descrevem nossos movimentos e, aos poucos, viramos uma sombra só. Primeiro, ela descreve irmãos siameses unidos pela cabeça, depois, dois corpos conversando a milímetros de distância. Meu pescoço se curva para trás implorando-lhe um beijo, mas você não me dá. Continua dançando, com passos curtos, lentos, conduzindo-me. Roda-me e vê meu cabelo girando contra a luz, faz com que eu ria e começa a dançar de um jeito esquisito. Faz-me dar gargalhadas, então. Tropeça. Caímos.

No chão, a gente se encara. Cara a cara. Ralei o cotovelo, mas pouco importa se seu corpo amorteceu o resto da queda. Você tira meu cabelo do meu rosto e da minha nuca. Você sabe quão incomodada fico com cabelo na nuca. Prende-o com a mão, envolve-o como um prendedor faz e me puxa fazendo com que nossas maças do rosto fiquem mais próximas do que duas maçãs ficam na macieira. Eu ali, deitada sobre você, você deitado sobre o chão, nossas pernas esticadas, misturadas, seu céu da boca todo meu... Conto com o tato da ponta daquilo eu me dá o paladar quantas estrelas você tem. Ou melhor, quantas vilosidades você tem. Sinto sua pele arrepiar e de algum jeito sei que você quer minha mão na sua nuca.

Pois bem, lá ela agora está. Como se não aguentasse mais se deixar ser dominado, você me coloca de costas no chão frio, que provoca um choque térmico com o quente que você provoca em mim. Mas não se repousa sobre mim, fica de bruços, deitado ao meu lado, olhando-me nos olhos, intercalando com olhares de cima abaixo. Morde os lábios de novo, mas dessa vez sei que não é encenação. Suas pálpebras meio caídas agora me pedem beijo. Sua pupila extremamente dilatada não está assim porque falta luz, apesar de o ambiente estar à meia luz, com uma meia lua no céu.

“É minguante?” – pergunto enquanto as únicas palavras que de mim você quer ouvir são “te quero”. “Sei lá, Isabela... Você sempre pergunta.” – você responde. Eu fecho a cara e você sabe o motivo. I-S-A-B-E-L-A. Eu odeio quando você me chama assim. E foi por querer. Você riu. Deu gargalhada da minha cara emburrada. Eu quis continuar emburrada, mas ri junto. E ao pé do meu ouvido, agora com os risos quase escassos, você falou: “É crescente, sua bobinha... O lado branco tá pra esquerda.” Uma onda de vontade percorreu-me o corpo e, com ela, uma onda que me dava a certeza de que a outra onda só surgiu porque aquilo, aquele momento, aquelas risadas... Ah... Tudo era puro amor. E um “eu te amo” veio das minhas cordas vocais sem que eu percebesse. Das suas veio um “eu também”.

“Vem, levanta! Quero dançar!” – eu falo enquanto me levanto. Você me olha com essa sua cara linda de preguiça, de sono, de dengo, de... de... Essa sua cara que pede cama, que pede sonho. Você vem resmungando, mas vem. E, como sempre, como para você se algo tem de ser feito, tem que ser feito direito, sou puxada pela cintura pelos seus braços fortes, nossos corpos se grudam feito durex quando se enrola.

A pilha fraca desse seu som acaba. Mas continuamos dançando na sala, na cozinha, no quarto, no banheiro, na cama. Na nossa pista de dança. A noite toda.


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