Enquanto lê, escute:
Você sabe como meus quadris são. O ritmo preferido deles é
mais rápido um pouco do que o que está tocando. Volte ao som, coloque uma algo
que me permita rebolar de um jeito suave. Sorria para mim. Não sou boa nisso,
mas você saberá que só estarei tentando seduzi-lo de algum jeito. Sorria de
novo e, nessa peça de dois, encene uma mordida no seu lábio inferior como se
estivesse me pedindo menos uma peça de roupa. Continuarei dançando. Você se
juntará a mim.
A sombras que nossos corpos criam na parede descrevem nossos
movimentos e, aos poucos, viramos uma sombra só. Primeiro, ela descreve irmãos
siameses unidos pela cabeça, depois, dois corpos conversando a milímetros de
distância. Meu pescoço se curva para trás implorando-lhe um beijo, mas você não
me dá. Continua dançando, com passos curtos, lentos, conduzindo-me. Roda-me e
vê meu cabelo girando contra a luz, faz com que eu ria e começa a dançar de um
jeito esquisito. Faz-me dar gargalhadas, então. Tropeça. Caímos.
No chão, a gente se encara. Cara a cara. Ralei o cotovelo,
mas pouco importa se seu corpo amorteceu o resto da queda. Você tira meu cabelo
do meu rosto e da minha nuca. Você sabe quão incomodada fico com cabelo na
nuca. Prende-o com a mão, envolve-o como um prendedor faz e me puxa fazendo com
que nossas maças do rosto fiquem mais próximas do que duas maçãs ficam na
macieira. Eu ali, deitada sobre você, você deitado sobre o chão, nossas pernas
esticadas, misturadas, seu céu da boca todo meu... Conto com o tato da ponta
daquilo eu me dá o paladar quantas estrelas você tem. Ou melhor, quantas
vilosidades você tem. Sinto sua pele arrepiar e de algum jeito sei que você
quer minha mão na sua nuca.
Pois bem, lá ela agora está. Como se não aguentasse mais se
deixar ser dominado, você me coloca de costas no chão frio, que provoca um
choque térmico com o quente que você provoca em mim. Mas não se repousa sobre
mim, fica de bruços, deitado ao meu lado, olhando-me nos olhos, intercalando
com olhares de cima abaixo. Morde os lábios de novo, mas dessa vez sei que não
é encenação. Suas pálpebras meio caídas agora me pedem beijo. Sua pupila
extremamente dilatada não está assim porque falta luz, apesar de o ambiente
estar à meia luz, com uma meia lua no céu.
“É minguante?” – pergunto enquanto as únicas palavras que de
mim você quer ouvir são “te quero”. “Sei lá, Isabela... Você sempre pergunta.”
– você responde. Eu fecho a cara e você sabe o motivo. I-S-A-B-E-L-A. Eu odeio
quando você me chama assim. E foi por querer. Você riu. Deu gargalhada da minha
cara emburrada. Eu quis continuar emburrada, mas ri junto. E ao pé do meu ouvido,
agora com os risos quase escassos, você falou: “É crescente, sua bobinha... O
lado branco tá pra esquerda.” Uma onda de vontade percorreu-me o corpo e, com
ela, uma onda que me dava a certeza de que a outra onda só surgiu porque
aquilo, aquele momento, aquelas risadas... Ah... Tudo era puro amor. E um “eu
te amo” veio das minhas cordas vocais sem que eu percebesse. Das suas veio um
“eu também”.
“Vem, levanta! Quero dançar!” – eu falo enquanto me levanto. Você me olha com essa sua cara linda de preguiça, de sono, de dengo, de... de... Essa sua cara que pede cama, que pede sonho. Você vem resmungando, mas vem. E, como sempre, como para você se algo tem de ser feito, tem que ser feito direito, sou puxada pela cintura pelos seus braços fortes, nossos corpos se grudam feito durex quando se enrola.
A pilha fraca desse seu som acaba. Mas continuamos dançando
na sala, na cozinha, no quarto, no banheiro, na cama. Na nossa pista de dança.
A noite toda.
lindo o texto... parabéns
ResponderExcluirobrigada!! <3
Excluirlindo,lindo,lindo!!!
ResponderExcluirObrigada, lud!! :)))
ExcluirBela, seus textos como sempre maravilhosos!!! Sou a fã #1 haha parabéns, vc arrasa!
ResponderExcluirO bella!!! Obrigada lindona!
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